O metrônomo na percussão libanesa.

Depois do tambor, o metrônomo é o principal instrumento de trabalho de um percussionista (aliás, de todo músico ). Para que serve o metrônomo? O metrônomo é um aparelho que auxilia o músico em seus estudos e trabalhos, principalmente os que trabalham com percussão. Trata-se de um instrumento pendular (no caso dos metrônomos mecânicos ) que marca a marcha do rítmico com batidas constantes. Essas batidas são denominadas pela abreviação bpm, ou seja, batidas por minuto. É ótimo para que o percussionista, tanto avançado quanto iniciante, possa desenvolver suas técnicas sem contudo correr o risco de ferir os espaços entre as frases. Na percussão libanesa podemos utilizar o metrônomo para as seguintes finalidades:

 Estudar os ritmos e seus devidos compassos

 Desenvolver técnicas

Criar combinações rítmicas

Treinar velocidade

Infelizmente, o metrônomo não poderá lhe ajudar quanto à interpretação rítmica. Para tanto, será necessário ouvirmos cada ritmo para entendermos sua essência interpretativa.

Infelizmente, o metrônomo não poderá lhe ajudar quanto à interpretação rítmica. Para tanto, será necessário ouvirmos cada ritmo para entendermos sua essência interpretativa.

Durante as apresentações das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, por exemplo, o metrônomo se faz uma peça primordial. Através dele o jurado poderá avaliar a bateria e sua evoluçao durante todo o desfile. É evidente que a marcha rítmica inicial deve ser a mesma ao término da apresentação. Há, porém, uma tendência de ano após ano as baterias de ecola de samba imprimirem velocidades cada vez maiores (aumento gradual das bpm), como tecnicamente é possível observarmos.

Os melhores metrônomos são os digitas, pois apresentam melhor precisão na marcação e contagem do tempo rítmico. Os metrônomos mecânicos, justamente por estarem vinculados ao funcionamento de engrenagem, podem apresentar pequenas falhas. Não aconselho a utilização de metrônomos para ambiente Windows, que são postos gratuitamente para download na internet. Esses programas ,geralmente, apresentam inúmeras distorções e não são cem por cento confiáveis.

Um bom metrônomo digital, consegue marcar com precisão uma ampla escala de andamentos, podendo variar, a título de exemplo, de 30 bpm ( Largo ) a 230 bpm (Prestíssimo).

Os andamentos ( bpm ) marcados pelo metrônomo, são escalonados da seguinte maneira:

De 30 bpm a 60 bpm: Largo - Andamento pausado.

De 60 bpm a 66 bpm: Largueto - Andamento menos vagaroso que o Largo.

De 66 bpm a 76 bpm: Adágio - Situa-se entre o Largo e o Andante.

De 76 bpm a 108 bpm: Andante ou Andantino - Andamento moderado.

De 108 bpm a 120 bpm: Moderato - Andamento entre o Andantino e o Alegreto.

De 120 bpm a 168 bpm: Alegro ou Alegreto - Em andamento animado.

De 168 bpm a 200 bpm: Presto - Andamento com presteza, rapidez.

De 200 bpm a 230 bpm: Prestíssimo - Andamento que se desenvolve com grande presteza, rapidez.

A marcha de um solo para derbakke, geralmente possui andamento Alegro.

Os compassos rítmicos marcados por um metrônomo, a título de nosso exemplo, variam da seguinte forma: -/4, 1/4, 2/4, 3/4, 4/4, 3/8 e 6/8. São, portanto, as unidades métricas de tempos que deverão se desenvolver de acordo com andamento ( bpm ) a que forem submetidas.

Há também os valores das batidas (notas) a serem especificados. Seus devidos valores são representados por notas de uma pauta musical. As notas podem representar uma, duas, três, meia batida etc..

 

Considerações sobre notações rítmicas

Qual a importância da notação rítmica nos estudos de percussão? Bem, sabemos que no mundo árabe existem cerca de trezentos ou mais tipos de ritmos, incluindo também suas respectivas variações. É praticamente impossível decorar todos esses ritmos. Dessa forma, as notações servem de lembretes caso ocorra um certo "branco" de memória.

Nunca devem ser utilizadas como base nos estudos de percussão ( entendimento de todos os mestres de percussão ). O ideal é ouvir o ritmo e perceber a forma correta de como ele deve soar. As notações rítmicas podem gerar um certo erro de interpretação, pois, geralmente, é muito raro estarem em perfeita consonância com a execução real do ritmo.

Todo ritmo possui o que chamamos nuanças (grau de força ou de suavidez que convêm darmos aos sons), e isso, por mais perfeccionistas que possamos ser em nossas anotações, não iremos conseguir representá-lo com perfeita exatidão.

 

Os Ritmos Libaneses e suas especificações

 

O Ayubb/Zaar

Ritmo de estrutura bastante simplória utilizada "geralmente" como ritmo introdutório ao solo de Tabla Árabe. Algumas curiosidades envolvem tal ritmo como por exemplo a fonte em que fora inspirado.

Acredita-se que o Ayubb é a representação percussiva do movimento do camelo ou do dromedário. É dessa forma que é popularmente conhecido como "Ritmo do Camelo".

Ayubb 2/4

DUM tákáDUM Tá...

DUM káDUM Tá...

 

A Baladi

De todos os ritmos o Baladi é sem dúvida o mais comum e o mais conhecido dos ritmos árabes. Trata-se da versão lenta do Maqsoum apresentando caracteristicamente dois DUMS em sua inicial. Existem muitas variações do Baladi.

Baladi 4/4

DUM DUM tákáTá DUM tákáTá táká....

Baladi (Clássica Egipcia) 4/4

DUM DUM ká KÁ DUM ká KÁ táká.....

Observe que na execução clássica egipcia, existem dois toques com a mão esquerda (...ká KÁ...) porém é importante ressaltar que a mão direita não ficará inerte. Precionando suavemente com o dedo indicador da mão direita o centro da membrana que o ao bater com a mão esquerda na extremidade da Tabla Árabe, o som será produzido

É possível se executar essas duas variações do Baladi em um mesma música ou solo? Sim, mesclar essas variações é uma prática muito comum de se fazer. Quando devo fazer essa mesclagem ? Não existe critério para isto, cabendo ao percussionista analizar rapidamente qual variação é a mais adequada e bonita para ser usada naquele exato momento da música ou do solo efetuado.

 

O Karatchi

Curiosamente o Karatchi é um ritmo que de início já nos mostra sua característica marcante. Inicia-se com um "Tá"(batida aguda) e não com um "DUM" (batida grave) como os demais ritmos até então abordados. Sua execução resume-se em uma sequência de 5 batidas usando alternativamente as mãos e finalizando na 6º batida com o "DUM".

Karatchi

TákátákáTá DUM......

 

O Saaid

O Saaidi, derivado da essência do Maqsoun, é reconhecidamente bastante similar ao Baladi e amplamente utilizado como ritmo base na execução de determinadas danças folclóricas árabes como a Dança da Bengala e a Dança do Bastão. De sua versão simplificada, é possível se extrair inúmeras variações.

Saaidi (4/4)

DUM Tá tákáDUM DUM tákáTá táká...

DUM Tá tákáDUMDUMDUM tákáTá táká...(3 DUMs)

DUMkáTákátákáDUMkáDUMkátákáTákátáká...(alternada)

 

O Ciftetelli

Existem muitas controvérsias à respeito da devida origem desse ritmo. Alguns acreditam que seja originário da Turquia principalmente pela etmologia da expressão. Outros porém acreditam que o Ciftetelli advém da antiga Grécia. De fato, estas contradições são perfeitamente normais, uma vez que ritmos grego e turco muito se confundem através do tempo.

Trata-se portanto de um ritmo bastante complexo, deixando o percussionista livre para apresentar inúmeras variações.

É usado primordialmente no âmbito da música árabe para acompanhar solos instrumentais de Tacksim (improvisação) de instrumentos como o Alaúde, o Kanoun, o Violino etc... .

Ciftetelli 8/4

DUM tákátá tá tákáDUM tá ká DUM DUM tá...

DUM káKÁ DUMKÁ DUM DUM ká...

DUM kákátákátá kákátákátá ká DUM DUM TÁ (Estilo Fuad Haidamus).

 

O Bolero e a Rhumba

Diante da grande semelhança que há entre esses dois ritmos, trataremos de ambos em um mesmo tópico.

A Rhumba é caracteristicamente executada de forma mais rápida que o Bolero, pois sua variação base apresenta exatos nove toques divididos em intervalos curtos, enquanto que a do Bolero, apresenta doze toque em intervalos mais longos, como podemos observar:

Bolero 4/4

Dum kákáTá kákáTákáTákáDum Ká..

Rumba/Rhumba 2/4

Dum tákátá Ká Tá Ká Dum ká...

 

O Zaffa

Semelhantemente a uma marcha, o Zaffa é um ritmo batante executado nos países do norte africano (Saara) principalmente no Egito. Caracteristamente sua forma simples, da a possibilidade de se extrair inúmeras variações É importante ressaltar que ao final de cada período executado, deve-se fazer uma pequena pausa, observe:

Zaffa 8/4

DUM tákátá tá DUM tá tá (pausa)

Essa pausa é uma caracteristica marcante em tal ritmo não podendo portando ser suprida. Existe a possibilidade de se unir dois perídos, adicionando ao intervalo uma batida "tá", porém no final, a pausa é imprecindível. Veja o exemplo:

DUM tákátá tá DUM tá tá tá DUM tákátá tá DUM tá tá (pausa).

 

O Karsilama

Ritmo bastante conhecido na Turquia e Grécia . É utilizado no acompanhamento de músicas de natureza folclóricas. Sua característica marcante se acentua pelas três batidas fortes (T – T – T), no final de cada sequência. Observe:

Karsilama 9/8

DUM tákáTá tákáDUM TáTáTá

 

O Saudi/ Khaleegy

O ritmo Saudita também é conhecido pelo nome de Khaleegy, recebendo essas duas denominações na Região Geográfica do Gôlfo Pérsico, fronteira com o Reino na Árabia Saudita. Trata-se de um ritmo bastante simples, apresentando 2 DUMs na sua forma estrutural. Deste ritmo nascera folcloricamente a Dança do Khaleegy ou Dança do Golfo.

Saudi/ Khaleegy 2/4.

DUMkákáDUMkákáTáká... (Sequência sem intervalos).

DUMkákáDUMkákáTÁká... (Inserção da batida "TÁ")

DUM Ká DUM kátáká..( Representação com intervalos curtos).

 

O Nawwari

Pode-se dizer que o Nawwari é um ritmo Sírio-Libanes, uma vez que é bastante conhecido e utilizado em danças nos paises da Síria e Líbano.

Nawwari 4/4

KáDUM kákáTá DUM kákáTá káTá....

 

O Basiit, o Btayhi e o Quddam

O Bassiit apresenta em sua forma estrutural grande similaridade com o ritmo Bolero e / ou o ritmo Rhumba. Observe:

Basiit 6/4

DUM ká DUM tákáTá ká tá ká DUM ká tá ká.....

 

Observemos agora o ritmo Btayhi, cuja estrutura apresenta quase que uma constante de toque alternativamente iguais:

Btayhi 8/4

Tá ká Tá ká DUM tákáTá ká tá ká DUM ká Tá ká DUM ká......

 

O Cocek / Serto

Na antiga Macedônia, hoje região onde geograficamente se localiza o pais da Romênia, "Cocek" é a sua denominação. Já na Grécia, é conhecido pela denominação de "Serto" onde é usado em danças folclóricas.

Cocek / Serto 4/4

DUM tátá táTáka....

 

O Jark

O Jark ou Jerk, é um ritmo que apresenta uma estrutura bastante similar ao Samba brasileiro.

Jark 4/4

DUM Tá DUMDUM Tá...... (variação simples)

DUM kákáTá tákáDUMDUMtákátá táká.......

 

O Sombati

Famoso Ritmo também extraído da essência do Maqsoum. Curiosamente vemos o Sombati ser executado por grandes orquestras ocidentais, em composições relacionadas ao mundo árabe.

Podemos citar como um bom exemplo o tema do filme Lawrence da Arábia, onde se observa nitidamente o Sombati usado como ritmo base. Outra curiosidade interessante é esse ritmo representar o trote de um cavalo em ritmo de marcha.

Nas canções típicas árabes, é utilizado também no acompanhamento de Tacksim ( improvisação) intrumental ou vocal.

Sombati 4/4

DUM Tá Tá DUM Tá......(simples)

DUM káTákáTá DUM kákáTá táká......(alternada)

 

SOLO DE TABLA ÁRABE ( O TACKSIM )

Destinado em sua totalidade para execução das danças árabes, o solo de Tabla Árabe possui alto grau de importância dentro da esfera do Middle Easter (Oriente Médio). Veremos que existem solos específicos para ocasiões específicas. Obviamente, é praticamente impossível falarmos de percussão árabe sem fazermos alusão à Dança do Ventre. Percussão e Dança do Ventre estão intrinsecamente ligados, e é por isso que comumente vemos bailarinas que também são derbakkistas.

Em verdade toda bailarina é intuitivamente uma percussionista, justamente tanto pelos Snujs, amplamente tocado nas danças, quanto pela necessidade de se familiarizar com os ritmos árabes para bem executar a arte da dança .

Feita essas considerações, façamos agora uma pergunta: O que uma Bailarina de Dança do Ventre espera de um solo de Derbakke ? Obviamente que seja riquíssimo em ritmos e variações para que ela possa mostrar seus conhecimentos na arte da Dança. Dessa maneira, o percussionista tem a responsabilidade de fornecer subsídios à bailarina para que esta assim possa se apresentar . É por isso que corretamente vemos expressões pontificando a necessidade de uma perfeita sintonia harmoniosa entre percussionista e bailarina. O problema é como e de que forma fornecer tais subsídios.

Existem algumas regras básicas que um percussionista deve ter em mente para apresentar um belo solo de Derbakke.

Primeiramente deve-se evitar abusos em enfeites que devem sempre ser realizados em momento oportuno. Isso vale tanto para um solo de derbakke, como para um acompanhamento musical.

Deve-se prestar atenção no compasso inicial de seu solo. É muito comum observar percussionistas que iniciam um determinado solo e gradativamente vão aumentando a velocidade inicial. Geralmente tal erro acontece com quem abusa nos enfeites.

Tocar de forma muito acelerada também é um erro bastante comum e grave. Criou-se erroniamente um certo dilema que todo bom percussionista árabe é aquele que toca com extrema rapidez. Na realidade, o bom percussionista árabe é aquele que toca conscientemente, sentindo a sua percussão e passando nela sua emoção que será transmitida de imediato à Bailarina que estiver se apresentando sob tal solo.

Formas de Solo:

Todo solo de Tabla Árabe é fruto de uma improvisação criada exclusivamente pelo percussionista. É o que chamamos de Taksim Tabla, ou seja, uma improvisação "melódica" feita através das batidas rítmicas da Tabla Árabe.

Existem duas maneiras de se apresentar um solo de Taksim: O Taksim solo sobre ritmos e o Taksim solo livre.

O Taksim sobre ritmos árabes é a improvisação realizada tendo como base um determinado ritmo ou vários ritmos, feito por um segundo instrumento ( Tabla, Riqq, Dohollah, Mazhar, etc ). Curiosamente, esse tipo de solo limita os movimentos da Bailarina ao ritmo base. É por isso que essas composições devem apresentar uma pluralidade rítmica sob pena de se transformar em algo monótono, com improvisações repetidas e cansativas.

O Taksim sobre ritmos é utilizado tanto nas apresentações de uma Bailarina quanto num grupo, durante apresentação coreografada. Neste caso, deve-se diminuir tal pluralidade rítmica, para não se potencializar grandes complexidades.

Já o Taksim solo ou improvisação solo é aquela realizada somente pelo percussionista não tendo como base nenhum ritmo. Impera grande complexidade onde percussionista e bailarina devem estar em perfeita sintonia. Inúmeros ritmos e variações são apresentados em um curto espaço de tempo, mesclados por vários enfeites improvisados.

 

 

 
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