Percussão e Bellydance - Vitor Abud Hiar
 
                 

 

 

 

 
 
 
 
 
 

 

 

 

Histórico:  A relação Percussão Árabe e Dança do Ventre no Brasil.

O texto em pauta não se resume apenas em uma breve retórica de introdução aos trabalhos que serão desenvolvidos nesta página, mas, também, em algo de essencial e fundamental importância para o conhecimento cultural.

Vemos milhares de sites brasileiros explanarem sobre cultura árabe de dança e música no Líbano, Egito, mas, no Brasil, há muito pouco ou absolutamente nada. Conhecemos os trabalhos de Nagwa Fouad e Hammouda; Souhair Zaki, Agieba e Wattatak. E no Brasil ? Como nasceu a relação artística entre percussão árabe e dança do Ventre ? Quem foram seus principais expoentes ? A história nos dará a resposta.

A dança do ventre já era praticada no Brasil  desde a década dos anos 50. A "Noite Oriental de 1953" (assista ao vídeo aqui), uma dos mais antigos registros em vídeo de uma festa árabe realizada no Estado de São Paulo, mostra-nos que, amadoramente, as danças árabes - como a dança do ventre e o dabke - já eram apresentadas por jovens de origem libanesa em ocasiões especiais. O pioneirismo profissional dessa arte ocorreria mais tarde, com Shahrazad Sharkey (Dança do Ventre) e Atef Issa e Grupo Folclórico Cedro do Líbano (Dabke).

década dos anos 70, o restaurante Bier Maza teve um importante papel na história cultural árabe brasileira. Ali se apresentaram os dois maiores ícones da Dança e da Percussão Árabe no Brasil: Shahrazad Sharkey e Fuad Haidamus.

Fuad Calil Haidamus,  mestre e pioneiro da percussão árabe no Brasil, trouxe a arte do acompanhamento e do solo de Tabla ou Derbakke. Desenvolveu o solo de tabla para as apresentações de Shahrazad e outras tantas bailarinas da época. Faleceu em 2002, mas seu trabalho ainda vive neste site.

Shahrazad Shahid Sharkey, Dama e Pioneira da Dança do Ventre no Brasil. Viajou por todos os recantos deste pais, difundindo sua magnífica arte, acompanhada por Fuad Haidamus e o conjunto de músicos de Wadi Cury. Shahrazad ministrou aulas de Dança do Ventre por mais de 40 anos no Brasil. Faleceu em 2014.

É curioso observar que o trabalho desses dois grandes pioneiros foram difundidos em conjunto. Destacamos aqui a magnânima seriedade como tal trabalho foi inicialmente difundido. Haidamus fora um músico de classe ao extremo. Transmitia grande seriedade e respeito. Shahrazad, da mesma forma, apresentava uma arte de essência sagrada, religiosa e sublime.

Não havia espaço para raciocínios distorcidos pendentes à sensualidade ou erotismo. A arte era apresentada como um encanto mágico de brilho, cores, ritmos e movimentos.

Segundo Shahrazad: "Uma bailarina não deve aceitar que os homens coloquem dinheiro em seu corpo. Dizem que é um costume, mas isso não é verdade. O corpo da mulher é sagrado e o público deve assistir a dança com muito respeito e admiração. Venho lutando para mostrar a 'Dança do Ventre' em toda sua essência. Uma bela essência que revela seu antigo caráter ritualístico e sagrado. Desejo que essa dança volte às suas origens e seus valores.Essa é minha luta, para que o Egito Antigo volte com toda sua essência e sua energia para dar sua mensagem a todas as mulheres do mundo" ( da Obra " Resgatando a Feminilidade" de Shahrazad Sharkey ).

Fuad Haidamus, por sua vez, defendia a arte do solo de Tabla como algo de grande responsabilidade. O respeito aos ritmos tradicionais e sua perfeita aplicação devem ser mantidos sempre. Essa arte não pode ser encarada como um mero jogo ou brincadeira entre músico e Bailarina. Lembremos de que a seriedade e o respeito mútuo devem estar acima de tudo.

 

 

A Origem dos Címbalos na Música Árabe.

O Sistro - Instrumento de percussão religiosos composto por 6 címbalos ( total de 12 pequenos pratos rústicos ) Acredita-se que os Snujs derivaram desse antigo instrumento ritualista egipcio.

Desejando inicialmente transformar este tema em mais uma página especial para este site, optamos por introduzi-lo nesta seção, devido sua significativa importância às Bailarinas de Dança do Ventre.

Vamos aqui tentar desvendar alguns dos mistérios que envolve os Snujs, através de uma análise geral e histórica dos címbalos e sua importância no âmbito da música árabe.

Primeiramente, devemos procurar entender o que realmente significa um címbalo.

Segundo consta nos dicionários modernos, címbalo significa pratos. Desta maneira, o címbalo corresponde a cada um dos dois discos de metal sobrepostos.

Por exemplo: os Snujs são compostos por 4 pratos, que formam 2 címbalos (dois pratos em cada mão). O Daff ou Riqq, é um instrumento que possui 5 címbalos duplos, ou seja, 10 címbalos que totalizam 20 pequenos pratos.

Qual seria a importância dos címbalos na antiguidade egípcia? Comprovadamente, o som produzido por címbalos está diretamente relacionado ao sagrado, ao religioso. É o mesmo objetivo dos sinos das igrejas, ou seja, quando tocados, conduz as orações dos fiéis até ao mundo divino.

Estudiosos acreditam que, inicialmente, a música árabe seria destinada aos cultos e adorações em honra aos deuses egípcios.

Bem, segundo dados históricos, o "Sistre" ou "Sistro" foi certamente o primeiro instrumento de percussão árabe dotado de címbalos que surgiu no Egito antigo. A prova esta estampada claramente em milhares de esculturas e pinturas de templos e tumbas faraônicos.

Os egípcios denominavam o Sistro de Sechechet, que podia possuir duas formas diversificadas.

Em algumas descobertas da Arqueologia, como a tumba do faraó Tutankhamon, foram encontrados diferentes Sistros, compostos por címbalos de bronze bastante rústicos.

Gravura egípcia que mostra um harpista sendo acompanhado por Sistros, tocados por sacerdotisas.

O toque do Sistro, geralmente, estava relacionado ao ato de clamar por proteção divina, e sempre era tocado por mulheres (sacerdotisas). Abaixo saberemos o porque desta razão.

No âmbito da religiosidade, o som produzido pelos címbalos representava o clamor de bênçãos à deusa Hathor (Deusa da Beleza, da Música, das Danças e, também, da Fertilidade).

Conforme nos explica os egiptólogos, Hathor, tendo sobre sua cabeça uma lua cercada por chifres, representaria o princípio feminino (beleza) e a fertilidade.

Aqui podemos entender historicamente um dos motivos pelo qual os Címbalos são considerados um acessório indispensável à Dança do Ventre. Lembramos, aqui, que a Dança do Ventre está ligada ao princípio da fertilidade da mulher. A Dança exalta o privilégio de ser mulher e sua dádiva de procriar, como bem nos ensina Shahrazad Sharkey.

O Sistro ainda é usado na música árabe ? Não ! Na música árabe moderna sua utilização fora abolida, porém, em países como a Etiópia, sua utilização ainda é possível em rituais e cerimônias estritamente religiosos.

Címbalo datado do período romano - Museu Britânico.

Pandeiros com címbalos (platinelas)

Acreditamos que a primeira geração de "pandeiros" que apareceram no Egito não possuíam címbalos. Certamente o Daff ( Riqq para os Egípcios) e o Bendir com címbalos (Mazhar), são desdobramentos que surgiram posteriormente, o que evidentemente representa um aprimoramento dos instrumentos de percussão.

Um outro ponto importante é com relação ao uso da expressão "címbalos". Para os pandeiros, utiliza-se modernamente o termo "platinelas" - as platinelas do daff, da mazhar - , já para os snujs, "címbalos" é o mais adequado. "Platinelas" é uma expressão muito usada atualmente no mundo da percussão. Para facilitar o apredizado, adotamos neste site o termo "címbalos", mas fica registrado tal ressalva.

Se observarmos atentamente algumas gravuras egípcias, vamos notar claramente a predominância de pandeiros sem címbalos, o que reforça tal idéia supracitada.

O surgimento histórico dos pandeiros com címbalos tanto no Egito quanto em todo o mundo árabe, deve-se certamente a outras duas finalidades de sua utilização, ou seja, demonstração de alegria e ostentação rímica.

Relêvo egípcio que mostra uma mulher tocando um Bendir ou Daff (sem címbalos). O Instrumento, conforme mostra a gravura, é empunhado pela mão esquerda e tocado com a mão direta (forma tradicional como são tocados os pandeiros árabes até hoje).

Ressaltamos que a utilização dos Snujs por uma Bailarina durante sua apresentação significa auto-afirmação e  convite à elevação de espírito (caráter não religioso), como também o pedido de proteção divina, intrinsecamente ligado à preservação de sua faculdade de procriar (fertilidade).

Os Snujs e sua utilização no Brasil.

Os Snujs (címbalos para os dedos) foram imortalizados no Brasil pelas mãos da notável Shahrazad Sharkey, durante suas apresentações de Dança.

Acompanhando a percussão de Fuad Haidamus, pioneiro da percussão árabe, Shahrazad trouxe técnica de sua utilização, figurando até hoje como a grande mestra no toque desse instrumento no Brasil e de sua utilização na Dança do Ventre.

Posteriormente, sua técnica passara a ser copiada e utilizada pela primeira geração de bailarinas que se seguiu, todas importantes precursoras na difusão da arte trazida por Shahrazad ao território brasileiro.

A Toura: os Snujs profissionais.

A Toura

Os Snujs profissionais - ou Toura (da nomenclatura egípcia) - são platinelas de cobre com exatos dez centímetros de diâmetro.

Dotada de forte timbre sonoro, a Toura é destinada exclusivamente para o uso em conjuntos musicais, orquestras e outros segmentos do gênero.

Diferentemente dos Snujs para Dança do Ventre, possui uma série de técnicas específicas que vão de batidas ou notas vibrantes à secas.

 

 

Os Snujs - Por quê, quando e como utilizá-los ?

Bailarina Libanesa em apresentação na década dos anos 70.

Há algum segredo especial para se tocar bem os Snujs? Bem, sempre gosto de dividir o estudo desse pequeno instrumento buscando responder à três perguntas básicas: Por que, quando e como utilizá-los ?

Em primeiro lugar, devemos ressaltar a simplicidade desse instrumento. Os Snujs possuem a finalidade exclusiva de alegrar determinadas frases rítmicas, proporcionando, através de seus toques vibrantes, um som mais envolvente e empolgante à percussão.

É muito importante deixar claro que o uso dos Snujs está diretamente ligado ao estado de espírito da pessoa, ou seja, se um determinado ritmo ou estribilho musical nos deixa felizes e alegres, se eleva nosso estado de espírito, é mais que correto usarmos os Snujs.

Seria o equivalente a bater palmas num determinado momento empolgante da música. A pessoa mostra que está feliz e que deseja, através do toque simples dos Snujs, contagiar todos que estiverem à sua volta.

Dessa lição básica podemos tirar muitas conclusões. Primeiro, não é em qualquer música que os Snujs podem ser utilizados (apenas música alegres, empolgantes), e, segundo, é muito raro a utilização dos Snujs em uma música desde o começo até o fim. Devemos nos preocupar em destacar os pontos mais empolgantes, os pontos de elevação de espírito. Isso vai muito da pessoa. Tocá-lo de forma direta, sem parar, prejudica a percussão tornando-a perturbadora. É por essa razão que não é aconselhável utilizá-los como percussão base.

Quando uma Bailarina usa os Snujs durante sua apresentação num determinado momento da música, significa duas coisas: 1 - A auto-afirmação de seu excelente estado de espírito naquele momento musical e 2- A intenção de transmitir esse sentimento a todos que estiverem à sua volta ( é o desejo de contagiar). É, portanto, a auto-afirmação e o convite à elevação de espírito.

Como utilizá-los:

Há quem realmente goste de desenvolver teorias pesadas sobre esse instrumento. Seria realmente correto colocarmos os Snujs no mesmo patamar que a Derbakke, a Doholla, a Mazhar, o Daff etc.. ? Bem, é evidente que não. Os Snujs acompanham a percussão de linha tornando-a mais alegre e envolvente, apenas isso.

Apesar de pertencerem ao rol dos principais instrumentos da percussão libanesa, devemos ter em mente que suaenvergadura é menor. Eles não possuem aptidão para serem usados, por exemplo, como referência maior numa percussão base, como a Mazhar ou a Doholla. Sua função específica dentro de uma percussão não é essa, como já dissemos.

Certa vez, recebemos a mensagem de uma Bailarina preocupada em saber se o "DUM"nos Snujs é feito através do toque dos dois címbalos de ambas as mãos simultaneamente ou se pode ser feito apenas com uma mão. Bem, não existe uma teoria que estabeleça coerentemente qual desses dois modos de tocar é o mais correto.

Há quem afirme que batendo os dois juntos a acentuação dada melhora a interpretação rítmica. Outros, porém, pregam uma liberdade maior ao toque dos Snujs. Para estes, realizar o "DUM" batendo sempre os dois pares de címbalos simultaneamente torna seu som irritante, prejudicando a interpretação do ritmo.

Para tentarmos solucionar tal problemática, devemos buscar a resposta nos princípios básicos que regem toda percussão. O recurso de bater os Snujs simultaneamente, faz com que consigamos obter uma máxima acentuação sonora naquela específica nota (batida rítmica). O "DUM", por sua vez, é sempre a nota de maior vibração sonora e não de maior acentuação sonora. Vejamos abaixo:

1 - Vibração sonora de uma nota: É a durabilidade sonora da nota dentro de uma frase rítmica (batida).

2 - Acentuação sonora de uma nota: E a nota que possui toque mais forte, mais robusto, o que a torna mais nítida dentro da frase rítmica.

Ante ao raciocínio exposto, cabe fazermos uma pergunta: Seria conveniente imprimirmos sempre uma máxima acentuação sonora ao "DUM" nos Snujs ? Penso particularmente que a técnica dos toques simultâneos deve ser trabalhada com cuidado e nunca inadvertida. Saber trabalhar as nuances é bastante fundamental. Devemos ter sempre em mente que o toque dos Snujs segue sempre três regrinhas simples e fundamentais: a naturalidade, a criatividade e a espontaneidade.

Naturalidade: Evite exageros desnecessários.

Criatividade: Seja criativo em seus toques, busque sempre o que há de melhor.

Espontaneidade: Deixe fluir seus sentimentos, sua elevação de espírito. Toque-os somente quando seu coração mandar.

É por essa razão que comumente não se toca Snujs em um solo de "taqsim melódico", pois não estamos em um momento de êxtase, alegria extrema, mas, sim, melancólico, sentimental e reflexivo.

 

 

O que uma Bailarina precisa saber para reconhecer a boa qualidade de um solo de percussão ?

É possível sim reconhecer facilmente a boa qualidade de um solo de tabla. A dica aqui vale para todas as Bailarias, servindo de orientação na escolha de um solo de qualidade para suas apresentações. Vamos aqui mostrar os principais pontos negativos que prejudicam a qualidade de um solo e que devem ser evitados.

Criou-se um certo entendimento de que para se executar um solo de tabla basta tocar uma meia dúzia de floreados com ou sem acompanhamento e pronto. Infelizmente muitos trabalhos que estão no mercado mundial são apresentados dessa maneira. É por essa razão que existem poucos grandes percussionistas árabes no mundo.

Antes de falarmos da técnica do solo, vamos falar da analise de sua sonoridade. Primeiramente é preciso verificar se o som dos instrumentos foram bem captados e equalizados, ou seja, se suas sonoridades na gravação estão nítidas e semelhantes a suas sonoridades reais. Um exemplo clássico de erro é o som do Derbakke apresentar timbres como se fosse uma "grande lata".

Deve haver uma boa definição entre agudos, médios e graves. Isso é necessário para que os nuances sonoros característicos de cada ritmo sejam bem percebidos pelo ouvinte.

Evite solos que apresentem ecos ou reverberações excessivos. Eco é o efeito sonoro pelo qual o som original produzido é integralmente reproduzido várias vezes até desaparecer por completo. Deve sempre ser evitado pois distorce completamente a execução de um ritmo.

Reverberação é o efeito bastante comum aplicado nos estúdios e home stúdios pelo qual se simula o ambiente acústico de um certo recinto. Se aplicado com excesso a persistência sonora acumulada anula as nuances sonoras, além de evidentemente tornar o solo extremamente barulhento.

Reverberação é o efeito bastante comum aplicado nos estúdios e home stúdios pelo qual se simula o ambiente acústico de um certo recinto. Se aplicado com excesso a persistência sonora acumulada anula as nuances sonoras, além de evidentemente tornar o solo extremamente barulhento.

Pois bem, após traçarmos os pontos principais que devem ser observados em relação a boa sonoridade de um solo de percussão, vamos nos ocupar com o segundo e não menos importante fator, que é a analise do solo técnico apresentado. Quais pontos uma Bailarina deve observar com atenção ?

Primeiramente a precisão rítmica; isso é mais que fundamental !

Devem ser evitados solos apresentados com muita rapidez. A afobação do músico que nada mais representa uma total falta de sentimento sobre aquilo que está fazendo, pode muito prejudicar o trabalho de uma Bailarina.

Observe também se há a preocupação de se gerar uma música percussiva ou se simplesmente os floreados são jogados a ermo. Floreados solitários que não se encaixam nem com o que foi tocado antes e muito menos com o foi apresentado depois geram uma certa insegurança, além de quebrar toda beleza de um solo quando bem apresentado.

O percussionista deve também ter trabalhado os nuances sonoros corretamente. Apesar de ser uma questão mais técnica, uma Bailarina também pode superficialmente analisar esse outro importante ponto. Escute atentamente se os enfeites estão soando bem. Nos excelentes trabalhos, o Derbakke soa como se fosse um verdadeiro "Piano". É claro que não podemos aqui transformar esse quesito em algo que, se não for muito bem aplicado, invalida todo um trabalho de percussão. Somente os grandes mestres conseguem realizar essa tarefa com melhor precisão através de uma melhor técnica e percepção rítmica.

 

 

Baladi e seu significado especial.

Dizemos sempre que o "DUM" é o coração do ritmo. Quando aquele se torna imperceptível, este perde  sua característica. Mas afinal o que significa a expressão "DUM" ?

"DUM" é a nota mais grave do ritmo e a mais vibrante (mais longa). É uma nota que precisa obrigatoriamente estar bem perceptível (não ser confundida com as outras notas) e clara ( não estar sob efeito de eco ou excessiva reverberação acústica ).

Dentre as inúmeras características importantes da nota do "DUM"podemos mencionar três:

1 - Auxiliar no reconhecimento do ritmo propriamente dito.

2- Auxiliar no reconhecimento de seu compasso.

3 - Identificação do ritmo representado graficamente.

Uma pergunta que certamente mais aflige as Bailarinas seria qual o elemento primordial que identifica e diferencia "em caráter exclusivo" o tradicional ritmo Maqsoun do ritmo da Baladi.

Existem muitas respostas para tal questão, mas se fizermos uma analise mais minuciosa, veremos que a grande maioria não são por completo elucidativas. Vejamos algumas respostas:

1- Baladi possui 2 DUMs na sua frase, enquanto que o Maqsoun possui sempre 1 DUM.

Essa regrinha vale mais para sua forma anotada (gráfica) do que para sua forma tocada, executada (que é a melhor forma de se estudar o ritmo).

O "DUM" a mais inserido no corpo do ritmo da Baladi tem um caráter predominantemente simbólico, que vem representar a forma recomendada para seu andamento. O DUM duplo força-nos a executá-lo de maneira mais lenta,vagarosa, para assim atingirmos o resultado final, que é o de tornar sua execução mais interpretativa, convidativa e sentimentalista.

Ao contrário do que se costuma ensinar, o Maqsoun quando tocado, ou seja, durante sua execução, não há obrigatoriedade de sempre apresentar 1 DUM na sua forma estrutural. O Maqsoun pode apresentar tanto 1 DUM quanto 2 DUMs.

Não funciona portanto ficarmos atentos ao ritmo tentando descobrir se ele possui um ou dois DUMs para, então, identificarmos se é Baladi ou Maqsoun. Essa prática pode nos induzir a erro.

2 - Baladi é a versão mais lenta do Maqsoun.

Trata-se de um raciocínio eficaz mas simples. No manual "Curso Prático de Tabla Árabe", adotamos tal raciocínio porque não tínhamos a intenção de nos aprofundar um pouco mais no referido tema; é claro que há mais para se acrescentar.

Devido a alguns fatores que veremos mais adiante, recomenda-se que todo Baladi seja executado sob uma marcha mais suave, pois, se tocado de forma mais rápida,"pode" acabar tomando a forma do Maqsoun.

 Relembramos que regra dos DUMs impera como uma constante somente na forma anotada ou cifrada. Se desejamos descrever em uma folha de papel o ritmo Maqsoun, por exemplo, devemos colocar um DUM apenas na sua forma estrutural. Já se a intenção for de descrever o Baladi, os dois DUMs devem estar presentes. Os dois DUMs só são característicos no Baladi na sua forma anotada ou cifrada e não "na forma executada, tocada.

Ritmo de Baladi, compasso 4/4 = D D TkT D TKT TK...

É muito comum certos percussionistas, ao executarem determinada Baladi, apresentarem na primeira frase rítmica dois DUMs e na segunda 1 DUM. Há também outros trabalhos que mostram o ritmo Maqsoun com dois DUMs na sua forma estrutural ou, então, o ritmo Baladi sob um andamento mais rápido. Ora, será que isso pode ser caracterizado como um erro ou descuido do músico ? É claro que não !

O que entendemos por "Baladi" ou "El Balad"?

Para realmente compreendermos o que é uma Baladi e o que é o Maqsoun, devemos ir um pouco mais além de tudo o que fora aludido até agora. Há muitos textos confusos na internet que tentam explicar o significado da palavra "Baladi". Vamos agora tentar descobrir o que realmente significa a "alma da Baladi.

Quando perguntávamos aos nossos avós qual o significado dessa expressão,tínhamos sempre a seguinte resposta: "Baladi é a canção que fala do lugar onde nascemos e da vida simples que tínhamos ali. ". Cabe aqui recordarmos também das cantigas infantis libanesas semelhantes a muitas outras conhecidas no Brasil como, por exemplo, " Ciranda cirandinha" ou "Atirei o pau no gato", que sempre possuíam em suas composições a palavra "Baladi".

Baladi (aldeia) é a terra, o lugar onde nascemos. Também, na visão do libanês, é a lembrança e o orgulho que temos por nossa terra natal. Mas não é a lembrança e o amor pela nação inteira como, por exemplo, o Líbano todo; é o amor pela aldeia, pela região, pela cidade, pelo lugar específico onde nascemos e crescemos. É a saudade de nossa casa natal e o desejo de lá um dia poder voltar. Baladi é a nossa terra natal mais o orgulho que temos desse lugar. É também tudo aquilo que está diretamente ligado ao lugar do qual originamos, às nossas raízes mais comuns. Por outro lado, baladi pode representar o país inteiro. Nesse caso nos referimos a independência, vejamos:

Muitos já devem ter visto em antigos vídeos, a grande cantora libanesa Fairuz se apresentar em trajes de uma jovem camponesa cantando sua vida inocente e seus desejos simples. Ela está representando uma "mulher de Baladi".

Sabemos que o Maqsoun é o principal ritmo árabe. Desse ritmo se extraiu o ritmo de Baladi, ou seja, o ritmo habitual tocado na nossa terra natal, tocado nas aldeias.

O Homem de Baladi sempre se veste com roupas comuns, do cotidiano;  a roupa normal do dia-a-dia.

Notemos que o ritmo da Baladi exige maior interpretação ,mas, sem muitos floreados. As nuances sonoras são mais suaves e convidativas à recordação. É um ritmo simples, que representa a terra natal do árabe.

Maqsoun é muito tradicional em casas de espetáculos e shows. As Bailarinas ou Dançarinas da Belly Dance, sempre se apresentam com roupas suntuosas, de grande luxo e brilho. As apresentações em coreografia também são bastante comuns.

Seria ainda correto afirmarmos que o ritmo de Baladi é a versão folclórica do Maqsoun ? De certa forma sim, pois trata-se de um ritmo que se ramificou do Maqsoun e recaiu sobre um sentimento regional (folclórico).

A própria expressão "Ritmo Baladi" já nos passa a idéia de ritmo regional, mas, se observarmos mais de perto, vamos descobrir que, no caso em questão, o folclore possui um campo bem mais abrangente. Baladi representa algo mais enxuto.

Ressaltamos ainda que Baladi também faz parte da grande divisão de versões da música árabe, vejamos:

Música Árabe Moderna = É a música feita com elementos novos, modernos; que foge do clássico habitual.

Musica Árabe Clássica = É a música feita aos moldes tradicionais, habituais ( exemplo: As canções de Abdel Halim Hafez ).Musica Árabe Clássica = É a música feita aos moldes tradicionais, habituais ( exemplo: As canções de Abdel Halim Hafez ).

Música Árabe Folclórica = São as canções que nasceram no meio do povo. Representam a sabedoria popular ( o Dabke, por exemplo, é uma dança folclórica muito tradicional no Líbano).

Música de Baladi = É a música tocada ou cantada na região, na aldeia, no vilarejo onde nascemos e crescemos. É a música que faz relembrar nossas origens, nossas raízes.

Vejamos, abaixo, um quadro exemplificativo sobre os estilos ou formas de música árabe:

 

Divisão da música árabe - Participação Percussiva nas diversas formas:

* Música Árabe Moderna ou Contemporânea - Estilo Percussivo "Raqs ou Raqset"

(Bellydance)

(usa-se derbakke, daff, doholla, mazhar, snujs..)

* Música de Percussão - Percussão Geral

* Música Árabe Clássica (entoada na forma clássica) - Estilo Percussivo "Al Tarabi" (ao estilo ou forma clássica).

(usa-se bongo ou "bongô", daff - ostentando o ritmo em alguns momentos - e bendir)

* Música Árabe Folclórica (mazhar e/ou bendir)

* Música de Baladi (mazhar e/ou bendir)

* Baladi Folclórico - Música típica da aldeia.

(bendir e/ou mazhar).

* Athêba (baladi) - Canto melancólico (não religioso).

(sem percussão).

* Muezim - Canto religioso, entoado nas Mesquitas Islâmicas.

(sem percussão)

*observação: Os snujs são amplamente utilizados no estilo percussivo Raqs. Nas músicas clássicas, quando entoadas ao estilo percussivo clássico (Al Tarabi), não se usa snujs.

 

 

Ratificamos uma vez mais a importância de se saber identificar corretamente o que é clássico e o que é moderno ; o que é folclórico e o que é baladi (distinção feita por muitos músicos árabes).

O Maqsoun e o tradicional Fallahi são os ritmos mais usados para a Dança do Ventre no mundo inteiro. Assim, nesses específicos casos, o que pode parecer ser um Baladi, tratar-se-á certamente do Maqsoun.

 

 

 

 

 

 

 

 
     

 
 

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